quinta-feira, 31 de março de 2011

Tempos

Estes tempos avaros, até demasiados tristes, em que nem mesmo os degraus de minha escada têm a honra de sentir-te. Em que nem mesmo os ladrilhos destas tortuosas ruas podem ter o teu toque. Nem mesmo o pó que desprende do asfalto em que piso impregna teus sapatos. Quem dera ao menos estes raios de sol que me atravessam os olhos atravessassem também os teus. Se eu pudesse ao menos saber que o ar, este que me rodeia, é também aquele que te envolve completamente...
Morrestes.
Em apenas um segundo tua respiração cessou. Foi então que, simplesmente, meu mundo desabou.
Deixaste-me, apesar de saberes que dependo de ti.
E cá estou, sozinho, em profunda solidão, a degradar aos poucos essa frágil matéria orgânica como qualquer outro pobre mortal, a qual um dia chamei coração.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Viver

Viajem ao céus,
imersão em mar
linha do horizonte:
o infinito alcançar!

Estar assim perto
mas tão distante
livro querido
esquecido na estante...

Abandonar-se por mais de um segundo,
abrir os olhos e ver o mundo.

Descobrir o que há em si,
conhecer o detalhe de cada gesto
contestar as próprias verdades
o que pensamos nem sempre é certo.

Ir além da superfície
penetrar junto à razão
olhar nos olhos e saber
o que há no coração

Como pássaro voar
a cada nova estação que chegar
Como raio de sol alcançar
o lugar onde nunca alguém pensou tocar.

Abrir as janelas da alma
compor a canção da vida
não permita que viver
não passe de aventura não vivida...

La nuit

E dela cabelos sedosos eram
sob o dele intenso olhar, desejo
Palavras ao vento, ao pé do ouvido
vício de amor, fogo consumido

Juntos, lava, vulcão
quem sabe amor, 
e dele explosão?

Uma noite escura pra iluminar
fogo em  fogo pro fogo apagar...