Como uma floresta que cresceu
até seu estado máximo de beleza
e cortada, morre
Como as árvores mais altas não ressurgem,
depois de extintas,
no outro dia
Como Amazônias desertas
de motosserra e correntes
somem, rendidas
Como as longínquas chuvas de 100 anos
Como a lentidão dos ciclos da abundância
Não será para logo a regeneração
Após a mata derrubada
não é possível aproveitar
a sombra das sumaúmas
O território do ódio
não nutre de pronto
as novas árvores desejadas
Virão antes delas as ervas daninhas
Teimosas, pioneiras
Formação de raízes para o solo duro
Perfuração
Início
Microvales de penetração das águas
Espera da mudança
Dança de esperança
Flores que nascem e murcham logo
Ervas do campo
E nos berçários do novo mundo
Sementes ocultas aguardam anos
Dormem, tranquilas
Até que a terra esteja pronta
Até que os olhos estejam abertos
Até que as mãos estejam quentes
e os abraços demorados, pra brotar
Então nascerá
À sombra do mato cortante
Do capim tiririca
Das arvoretas tortuosas
Nascerão
as novas
árvores da vida
Raízes generosas
Invisíveis e intensas
Ramificação infinita
Conexão subterrânea
Folhas desavergonhadamente verdes
E frutos timidamente amarelos -
Repletos de arapuás
Sim, a esperança será um pé de juazeiro.
E esta, a vida, desenhará nas paisagens áridas
uma nova bandeira.
* * *