sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Juazeiro

Como uma floresta que cresceu 
até seu estado máximo de beleza
e cortada, morre 

Como as árvores mais altas não ressurgem, 
depois de extintas, 
no outro dia 

Como Amazônias desertas 
de motosserra e correntes
somem, rendidas 

Como as longínquas chuvas de 100 anos
Como a lentidão dos ciclos da abundância 

Não será para logo a regeneração 

Após a mata derrubada 
não é possível aproveitar 
a sombra das sumaúmas 

O território do ódio 
não nutre de pronto 
as novas árvores desejadas 

Virão antes delas as ervas daninhas
Teimosas, pioneiras
Formação de raízes para o solo duro 

Perfuração
Início
Microvales de penetração das águas
Espera da mudança
Dança de esperança 
Flores que nascem e murcham logo
Ervas do campo 

E nos berçários do novo mundo
Sementes ocultas aguardam anos
Dormem, tranquilas
Até que a terra esteja pronta 

Até que os olhos estejam abertos
Até que as mãos estejam quentes 
e os abraços demorados, pra brotar 

Então nascerá
À sombra do mato cortante
Do capim tiririca
Das arvoretas tortuosas

Nascerão
as novas 
árvores da vida 

Raízes generosas
Invisíveis e intensas
Ramificação infinita 
Conexão subterrânea 

Folhas desavergonhadamente verdes
E frutos timidamente amarelos -
Repletos de arapuás 

Sim, a esperança será um pé de juazeiro. 
E esta, a vida, desenhará nas paisagens áridas 
uma nova bandeira.



* * *