quarta-feira, 26 de junho de 2019

Lavando os pincéis

Algumas pessoas, com seu jeito e tom nos ensinam a ser grandes.
Trazem o mundo e levam a infância embora.
Descortinam as crises do existir, fazem pensar.

Outras carregam o brincar em volta dos olhos e nos propõem, com seus gestos,
a expansão de um universo em que tudo caiba junto.

A infância e o caminho a seguir.
O brincar e o saber.
O sofrer, e ainda assim, o crer.

Em seus olhos, como num espelho, nossa criança sorri e acena.
Os sentidos rememoram algo dentro que acorda o movimento de sonhar.
As engrenagens da criação voltam lentamente a girar, e as cores se movem de novo no carrossel.

Tem-se vontade de ter as mãos cheias de giz de cera, de lápis de cor e pincéis de aquarela outra vez.
De deixar as cores vivas se espalharem no papel, de manchar de tinta as mãos e todas as páginas do caderno.
E depois, gastar as horas ao pé da pia lavando todo aquele estrago, olhando a tinta serpentear diluída nas águas...

Enquanto tudo escorre, um sorriso.

*

Penumbra

O sol se põe e a noite desce sobre a alma.
Mesmo que hajam estrelas, estes leves pontos cláridos, tudo é sombras aqui embaixo.
As dúvidas, aos milhares, se acumulam sobre os olhos como o pó sobre os móveis.
Tudo embaça, enturvece.
Como ousar tocar os sonhos, seguir em frente, mover a vida?
A névoa é densa, e as dores, sólidas.
As vontades, muitas.
Os desejos, vários.
As possibilidades, todas.

E por serem tantas, é nenhuma.

*