Não há culpa nem nada
Apenas desaprendeste
A ler nos meus olhos
as verdades transparentes
Escorridas em lágrima
Finas demais
para serem deixadas à margem
Discretas, mas poderosas
Poderiam redefinir os rumos
Do corpo brotaram soluços cabais
Angústia e urgência
Estavam ali
Desejo desesperado de ficar
Por vezes intermináveis
eu fui líquida
Acessível
Tangível e aberta
Os olhos aos borbotões
Vazaram muito mais que sinais
Eram gritos,
Não ouvistes?
Havia desejo e possibilidades
Eu estive aqui
E vistes,
Mas tinhas outros afazeres.
Estava ali toda a vida possível
Parecias morto
Ao invés de pulso,
O nada
Estranhei
Me fiz viúva em vida
Por isso o luto
Por isso o silêncio
Os olhos tristes
vageando nas coisas
A despedida inconsciente
Nas felicidades
Fui dizendo adeus
Desde o dia que morrestes
Não tive mais tempo para teu ciúme
Nem para me debater
Nem para debater
Tudo que fazias era luto e adeus
Cada palavra áspera
escorrida da sua boca
te ajudou a morrer
Foi uma boa morte.
não foi preciso mais nada
além de te arrancar de mim
pela raiz
e me plantar no seu lugar
e por semente
no lugar que sempre foi meu
*