terça-feira, 31 de outubro de 2023

Bruxas

Quando o céu parece baixo demais e todos os passos, acelerados,
Quando a rotação da terra não nos chega nos nós,
Quando todos os pássaros estão ausentes, 

Ciganas e feiticeiras, dançamos. 

Riscamos o ar com a ponta dos dedos e o chão com os pés, em círculos capazes de reestruturar a dinâmica da existência, em bamboleios sonoros sincronizados com a matéria constitutiva do universo. 
Mergulha-se no vento como quem parte ao meio todo um mar, como quem sabe da densidade de todos os oceanos. 
Como quem domina todas as leis da física e pode por isso superá-las. 
E cria, a partir delas, jeitos novos e lentos para existir no agora. 

Reconhece-se uma irmã pelos olhos e pelas mãos:
Tudo nela dança. 



P.s.: 
Não há domínio sobre lei nenhuma, 
e não há mística maior que dançar a vida e o que nela há pra dançar.  
Nada está sob controle porque tudo dança.



* * *

domingo, 22 de outubro de 2023

Olhos são portais

Olhos são portais. 

Essa frase é uma ideia que nunca continuei. 
Olhos são portais. 
Escrevi isso depois de olhar nos olhos de um amigo há muitos anos, e a frase ficou intacta. 
Parada no ar.
Resolutiva.
Achei que iria virar um poema, que fluiriam os outros versos logo em seguida.

Nunca vieram.

Talvez porque seja apenas isso.
Olhos são portais. 
E aí, parar pra pensar nos tantos portais que já estiveram diante dos seus, transparentes ou opacos, portas fechadas ou abertas, fluidez ou dureza, doçura ou mágoa.
Apenas isso. 

Ser gente, e ter a possibilidade de atravessar essa existência estando diante de outros olhos já é coisa muito obtusa, e nisso aí não tem poema que chegue, nem letra de canção nem instrumental que vá lá no que é.
 
Bom.
Até que tem, mas vá lá : 
não é lá a mesma coisa. 


* * *