quarta-feira, 31 de maio de 2023

Flor

Tatuo a pele para lembrar que as tuas flores, em vão, eram sementes de prazer que não vingaram 

Que a pele, pelos eriçados, é a flor onde aflora o novo e camada de novos caminhos 

Que os caminhos, se me parecem tortos, é que são curvos feito rio, e se curvam montanha abaixo à procura de outras águas. 

Que as águas sempre se encontram.
Que o mar é feito de encontro.
E encontro é fazer do mar, pele. 

É da pele que faz-se o mar.



* * *

terça-feira, 23 de maio de 2023

Café

A gente faz amor por telepatia. 

Faz no fazer da ideia
No encontro dos olhos, 
que
linguagem secreta -
Desvendam o momento exato 
da concepção daquela coisa fluida e transparente que traçamos juntos. 

Juntos, dar à luz à portais pela luz dos olhos. 

No encontro encontrar o infinito do outro,  como quem esbarra na beira de um buraco de minhoca:
Imenso, impressionante, cheio de estrelas. 
Olhar e ver ali o universo. 

Ouvir do encontro uma palavra e ela catalisar um turbilhão de novidade dentro, cascata de palavras farfalhantes ao redor, oceano de vir a ser possível nesse lugar de potências. 

Um universo inteiro de linguagem capaz de recriar o mundo 
e refundar todas as belezas pelo som da voz. 

Dividir o café.
E fazer disso o ato sagrado que pactua nossa existência comum nessa existência.


*

sábado, 13 de maio de 2023

Lampejo

Os mapas que atravesso
As mãos que toco 
Evocam as melodias das tuas rimas 

Os mares que adentro
Os bares em que me sento
O rosto que me sorri 

As folhas das plantas novas que descubro
Os desenhos que me escapam no escuro
Os traços e as nervuras de tudo ali 

Distante miragem
viagem
Bobagem insistir



*