sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Felicidade

Não depende de alguém, algo ou algum lugar, quase. Ela vem de mansinho, e quando você percebe, já te dominou. É aquela luz tênue da madrugada, aquela que, quando você dá por si, já é dia claro, azul-brilhante. É flor que desabrocha aos pouquinhos, pra de repente, já estar aberta inteira, inundando o jardim em cor.
É o ponteirinho das horas do relógio, aquele que, mesmo sem perceber, é a coisa mais paciente do mundo, é aquilo que atravessa aos milímetros, as vinte e quatro horas de um dia, todos os dias. É oxigênio que penetra cada célula, o qual na abundância nem percebe-se, entretanto em sua ausência não vive-se.

E nem tem causa ou condição, quase.

Basta despir-se dos maus pensamentos, todos eles, e mergulhar-se na mais bela canção ao pôr-do-sol. Expulsar a raiva do coração, as mágoas da alma e preocupar-se apenas com o que é divino. Apenas com o amor divino, a paz divina, e recusar-se a usar o coração para odiar algo ou alguém.
E abrir aquele mais lindo sorriso só pra si mesmo, e deixar ele fazer formigar o corpo inteiro.
E esquecer-se até do esquecimento, e não preocupar-se em procurar o amor da sua vida porque o amor da sua vida é você.

E aí ela chega. Mas não vai deixar você vê-la entrar. Não vai nem bater na porta.
E aí, quando você percebe, já é feliz.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Temporal

Chovia. Grossas lágrimas das nuvens encharcavam-lhe a camisa, a calça, os cabelos... Tinha que esperá-la. Mesmo debaixo daquele temporal, algo lhe fazia sentir que ela estava perto, que viria sim. Durante os últimos seis meses, lhe tomara todos os pensamentos. Onde estaria? Porquê fugira dele? Será que fugira dele? Estaria viva, ao menos? Todas as células do corpo ansiavam loucamente por uma resposta, mesmo que esta significasse o pior. Teria sido sequestrada? Seria ela mais uma pobre vítima da maldade do coração humano?

Naquela tarde teria a resposta, sentia isso lhe arrepiando a pele. Iria ver. Desejava vê-la, mas estava consciente de que também poderia ver seu assassino. Mas ali, ensopado, sentia que seria ela. Duas horas passaram, e lhe parecia uma eternidade. Cansou de esperar. Frustou-se. E resolveu ir embora.
Quando finalmente caminhou até o final da rua, ouviu uma voz:
"Corta!"

Era o diretor, é claro. A chuva cenográfica foi desligada, as câmeras também.
"Bom trabalho, pessoal! Já chega por hoje."
De volta à vida real, se dirigiu ao camarim para vestir uma roupa seca. E foi para casa dormir.
Amanhã gravaria a cena do beijo, para delírio dos telespectadores.