terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Passagem

Entrar no mato e ver
Essa alvorada
Seguir o rastro tecer
Sua jornada

Traçar mil milhas 
Com o pé
Nessas cidades
Saber
Não ando de ré
Nem com metade 

* * *

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

Refrão

Planta
a semente
Planta, planta
Que é no corpo 
e na dança
Na curva do teu andar 
Cheiro de alfazema

Planta 
A semente 
Canta, canta
Faz do gesto 
Esperança 
Na voz de nenhum lugar
Caminhar no dia


* * *

sexta-feira, 7 de outubro de 2022

Juazeiro

Como uma floresta que cresceu 
até seu estado máximo de beleza
e cortada, morre 

Como as árvores mais altas não ressurgem, 
depois de extintas, 
no outro dia 

Como Amazônias desertas 
de motosserra e correntes
somem, rendidas 

Como as longínquas chuvas de 100 anos
Como a lentidão dos ciclos da abundância 

Não será para logo a regeneração 

Após a mata derrubada 
não é possível aproveitar 
a sombra das sumaúmas 

O território do ódio 
não nutre de pronto 
as novas árvores desejadas 

Virão antes delas as ervas daninhas
Teimosas, pioneiras
Formação de raízes para o solo duro 

Perfuração
Início
Microvales de penetração das águas
Espera da mudança
Dança de esperança 
Flores que nascem e murcham logo
Ervas do campo 

E nos berçários do novo mundo
Sementes ocultas aguardam anos
Dormem, tranquilas
Até que a terra esteja pronta 

Até que os olhos estejam abertos
Até que as mãos estejam quentes 
e os abraços demorados, pra brotar 

Então nascerá
À sombra do mato cortante
Do capim tiririca
Das arvoretas tortuosas

Nascerão
as novas 
árvores da vida 

Raízes generosas
Invisíveis e intensas
Ramificação infinita 
Conexão subterrânea 

Folhas desavergonhadamente verdes
E frutos timidamente amarelos -
Repletos de arapuás 

Sim, a esperança será um pé de juazeiro. 
E esta, a vida, desenhará nas paisagens áridas 
uma nova bandeira.



* * *

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Canção pra acordar a Terra

O canto do amor que vibra
O canto de amor preenche
O canto do amor expande o ar

É forte e corta rente
Transpassa e transborda a gente
Ligeiro risca a centelha

Atrás do rastro infinito
Acende e acalma o grito 
O facho da luz ateia

Quem gera pólen, semente
Avesso do véu da gente
Detém o fio e a teia

Quem encheu o mar?
Quem traduz o sentido
Guarda no teu olhar
Revira

Quem entrou no mar?
Quem partiu os mistérios
Rasga o céu no ar
Se lança

O canto do amor transcende
É flecha, estrela cadente
Transpassa e costura a Terra

É flecha, punhal pungente
Desfaz e refaz a gente
Espalha o sangue na veia

Quem olhou pro mar?
Quem traduz os sentidos
Rasga o véu de amar
Revira

Quem guardou o mar?
Quem abriu os mistérios
Une céu e ar
Na dança

Se lança?
Revira?
Respira?
Quem sangra?




domingo, 7 de agosto de 2022

Encontros

No sol do olhar de cada um cabem os contornos que o tempo esculpe ao redor. 

A gente olha e vê ali no entorno as várias camadas daquele ser, passados e presentes mais antigos e mais próximos, mudanças sutis e mudanças radicais de cabelo, corpo, estilo, roupa e jeitos de ser que variaram, mas que estiveram sempre ancorados naquela medida de sol que é o meio. 

Que é o dentro. Que é o centro. 

Os amigos da infância, da adolescência, de um tempo em que a gente mesmo era outro, se transformam, desabrocham e murcham, frutificam e voltam a reflorir, e poder enxergar em perspectiva e se deixar ver dentro, nesses vários eus que nos tornamos é o presente mais sutil da vida. 

É um presente estar presente e ter estado presente. 

As lentes da memória aglutinam as essências e surge um amor desmedido e desapegado a esses outros seres mutáveis que acompanhamos e que nos acompanham. 

Testemunhas oculares de todas as coisas que fomos e que tivemos, e que já não somos agora. 

Testemunhas de seres inteiros que ao mesmo tempo se desintegraram e se refizeram no tempo. 

Expansão e contração.

E é bonito saber que há sempre gente que permanece ali, atravessando junto a vida desde a mais antiga versão que fui.



*

sexta-feira, 8 de julho de 2022

Eremita

Habitava casas não-suas
conchas
cascas de outros seres ausentes

O molde de uma antiga vida
lhe fazia crer
que novas poderiam surgir

As cascas crustáceas
por vezes rachadas
lhe cutucavam a pele:
sempre achava 
que poderia reformar

Misturava-se aos corais
avistava novos invólucros coloridos

Quanto mais bonitos mais vazios
às vezes até inertes: 
nunca nem houvera vida ali

Confundia latas velhas 
de refrigerante
com abrigos

E copos descartáveis retorcidos
com uma forma nova 
e revolucionária de morar

Tentava, testava, 
experimentava
nada parecia tão bom 
quanto a casca anterior

Caminhava na melancolia 
do que se fora
do que fora

O antigo ser que se apertara 
pra caber em casas não flexíveis

Como pés que se quebraram 
para entrar em sapatos pequenos

Até que veio um estralo
um espelho
um palpite:
já tinha invólucro,
barreira,
fronteira,
limite

Seu exoesqueleto 
quitinoso
era mesmo 
duvidoso
mas ainda frágil
o corpo-casa
lhe bastava

Continuou a dançar 
em conchas
mas então 
refizera as contas
e era assim de outra 
margem que olhava:

Ao invés de 
clausura e cárcere
decidiu acolher 
a casa 
que de tão leve
e frouxa
lhe fosse asa



* * *


segunda-feira, 4 de julho de 2022

Não

Melhor a escuridão da casca
que a luz da vitrine
a exposição
a incerteza
a ansiedade
a assimetria: 
ofertar tudo,
não receber metade

Fazer um desfile estético
castrar a selva de pelos 
e os desejos selvagens
docilizar a fala
domar a raiva
cruzar as pernas
pedir desculpas 
encobrir ataques absurdos 
às próprias bordas

Descobrir, muda e pálida de espanto
que meu não é convite para o sim
código perverso de uma linguagem
destruidora de minha subjetividade


Deixe que eu te ensine, querida
você não sabe gozar
quando você pede calma 
é que quer o contrário
se disser que não 
eu transformo em sim
eu é que sei

Sei toda a estrutura 
do seu pensamento
te esquadrinho
adivinhe só
antes mesmo 
que você pense
eu já sei

Leia este livro
ele te ensinará teu lugar
eu sei 
que você disse que não
mas eu sei 
que queria dizer sim

Tudo que você disser 
eu já sei
o que você for citar 
eu já li
até mesmo a sua intuição 
é construção social, 
veja bem

Na verdade 
só eu sei 
dos seus desejos
deixe que 
eu 
te guie 
nessa estrada 
confusa que é você

Você está tão confusa, querida
veja:
se eu 
rasgar a sua roupa
foi você 
quem quis

Venha
é a ssim
que to das gos tam
eu vi nos filmes pornôs
quero ver seu rosto 
fazendo a mesma cara
aliás
seu rosto é o que menos preciso ver

Olhar no olho para quê
conexão não é o que 
nenhuma delas parecia precisar

Dessa vitrine você parece tão bela
continue assim
estática
pra eu 
te ver melhor

Evite respirar
não me contradiga
assim não posso aguentar
(sou frágil)
a culpa 
será
sempre 
sua 



*

sábado, 28 de maio de 2022

Canoa

Tua rede 
pendurada no sonho, canoa
Flutua rio acima
escapa ao fluxo contrário
das margens desenhadas
pelas águas fortes 
que adentram o mar

Suspensa pelas cordas 
do rios voadores
Cai na contra maré
No encontro
perfura o ar no perfume
manso dos ombros 
e na profundidade dos olhos

Tecida com o tecido 
das palavras carregadas de desejo 
desembrulham, lívidas
as camadas do tempo
atravessam e emitem 
ondas sonoras
acordam os sonares submarinos 

Os peixes, inebriados, 
procuram fôlego 
emergindo no vento

Os pássaros, confusos, 
mergulham fundo 
procurando ar 

Que invenção será canoar em rede?
Será flutuar no sonho ou acordar mergulhado?
Para subir na canoa será preciso afundar?


* * *

domingo, 22 de maio de 2022

Origem

Abres as chaves dos mistérios
recuas o céu e arrastas 
as montanhas das dúvidas

Teu espírito
nos carcarás
nos gaviões carijós
e nas galinhas

Canta nas águas 
que escorrem da chuva
canta nos beirais e muros
reverbera fundo em minha alma

Teu amor, líquido
vibra nos trovões 
que deslizam do céu
enche meus pulmões de ar
e constitui as moléculas rígidas
de carbono 
nos troncos das florestas

O mesmo pulsar 
que me atravessa e me vê
que me funda e me funde 
na matéria de existir

Escorre agora na minha varanda
e respinga nas folhas das plantas que são minhas
mas que verdejam por estarem desde o começo dos tempos
enraizadas no teu solo fértil

Sagrado
é o azul escuro e fundo do céu estrelado

Sagrado
é o vento batendo as portas e arrastando as folhas pela casa

Sagrado
é o chão do mundo 
que descubro solo teu quando habito em ti


* * *

quarta-feira, 18 de maio de 2022

Mordida

As folhas secas
desintegração no solo úmido
esconderijo perfeito 
das formigas 

Uma acorda 
As patinhas correm embriagadas
Seu cheiro é muito mais 
Coisa de morder que folhas 

Mordidas ásperas 
desespero
Chão
Carinho 

Eu sei que doeu
Mas eu nunca mataria uma formiga dessas 

Esperta
Fez o que eu queria 
fazer desde ontem
Me traduziu 

Desculpa o corte 
Desculpa o susto
É um universo inteiro 
querendo me dar sua pele


* * *

domingo, 8 de maio de 2022

Rosa

Meu nome é mar
eu vou chegar 
partindo

Seu coração
Espuma e sal
fluindo

Eu virei célula
no teu corpo, mãe
dormindo

E só vinguei
brotei
porque teu mar
é lindo


* * *

sábado, 23 de abril de 2022

Raio

Quando o chão tocar o ar
Se for nuvem o trovão
A origem e o cessar
Ciclo da imaginação

Se de pó é o pensar
Se desfaz como carvão
Traço riscos pelo ar
Vento da intuição

A tinta solta pelas águas
Como um rio de devoção
Tua pele, espelho d'água
Me dilui o coração

A tinta solta pelas águas
Tela da imensidão
Tua pele, olhos d'água
Abre o mar

Revelação 
(Revolução)



* * *

sexta-feira, 25 de março de 2022

Espirais

Borboletas,
Nos encontramos no bater de asas
A caminho das nossas flores 

Em pleno voo
Traçamos linhas coloridas no ar 
Cruzamos nossos planos 

As rotas se espiralam 
às vezes em direções semelhantes 
A gente dança junto

Parece até que a flor é ali 

Engano
Logo nos perdemos 
força centrífuga 

não há eixo que nos fixe 

seguimos no voo
e continuamos na busca 
das flores que nos movem 

dá uma pontinha de tristeza 

Mas como é bonito
pelo caminho se deixar perder 
em asas coloridas 


* * *

sábado, 12 de março de 2022

Viagem

Aprender  a 
   
r                      
     e     p      o    u               
                               s    
                                     a    
                                           r       o   corpo 

no fluxo do tempo
Observar os ciclos 
que vêm e se vão 

I  n  s  p  i  r  a  r
Expirar 

D  i  l  a  t  a  r 
Contrair 

E  x  p  a  n  d  i  r
Recolher 

Entrelaçar
A  f  a  s  t  a  r 

Concentrar 
D  i  l  u  i  r 

C
   h
      e                    r
        g              i
           a      t
              r                  P
          a                      
      P   a   r   t   i    r   a   g   e  h  C
             a                   
          g                      r
       e                         
    h                            t
C
                                  i

                                  r




* * *

sexta-feira, 4 de março de 2022

Mapa

Continuar querendo atravessar
ser atravessada 

traçar contigo 
rotas em ti desconhecidas 

Desprender-me de mim 
para acolher o instante 

Vibrar mantras transparentes 
atrás dos teus cabelos  

Em oferenda todas as luzes
de nossos sorrisos não dados 

Adiados
Desejos velados 
Segredos selados 

Em reverência a todas as cores
De nossos fluxos cortados 

Censurados
Autoextirpados
Exilados 

Em querer dizer de todas as vezes
Dos dentes cerrados 
Das palavras contidas
Das ideias desfeitas no ar
Das frases apagadas antes de mandar
Das que foram enviadas apenas 
Telepaticamente 

Moro agora num outro país 
lá é bom 

Mas o exílio de ti
esse nunca passa


* * *

sábado, 19 de fevereiro de 2022

Casa

Estou morando em olhos nenhuns
A minha casa, a beira das cajazeiras
Me abre para dentro como as janelas 
Se abrem para o sol 

As minhas portas, escancaradas pelo vento 
tudo recebem de cor e de cór 
e deixam fluir

Ainda há cascalhos
E conchas
E muito lixo em minhas águas
E tudo se mistura e transborda 
nas abundantes gotas fevereiras 

Até pareço um tanto mais fluida 

E palavras me atravessam
E canções me atravessam
E batuques e danças 
me transpassam 

Me transponho 
para tons agudos
Garganta e corpo 
vibram em outras notas 

Me componho 
em pautas livres
Em meus pés que dançam 
em outras paisagens 

Me aproximo de energias mais densas 
Olhos repletos de magnetismo
Corpos que acolhem 
Mãos poderosas
Fervuras em potências de mover 
Liberdades construídas de muitos jeitos

Gente que samba ao som das marés
Que pula em brincadeira e ritmo
Que tem prazer em se deixar levar 

Olho 
Guardo 
Coleciono
Fotografo no olho
Agradeço 

Sinto 

Ainda não vi nada, 
nada sei. 



                 " Desde que sim 
                   eu vim
                   Morar
                   (Nos meus) olhos". 
                   inspirado em Âmbar, da Adriana Calcanhotto
                        https://www.youtube.com/watch?v=kEkK5_JyY4k




* * *

terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Corpo de luz

É bonito regar com os olhos míopes outros olhos de sonho
Tecer linguagem no corpo de luz da lua 
Trançar os fios que ligam ao outro lado da rua 

Você, miragem
Não prevê o peso da bagagem
Não recua nem desenha margem
Não deseja forma nem imagem 

Me afundo em seus olhos profundos
E mesmo assim não fecho as portas
Te digo que as vezes, desavisados
Quando você abre a guarda 

Enxergo de relance os seus segredos
Seus pedidos sem palavras 
Você diz não querer nada
Mas sei : o mundo inteiro já é seu 

Quando você baixa a guarda
Quando pisca 
Quando pausa entre os assuntos
Fica tudo muito à vista 

Sua insistência em me chamar estrela
Seu amor pelos vaga lumes 
Pelas réstias de luz 
Suas semicoisas 

Saiba
Pois
Todas as coisas me contam
Cochicham 

Indicam
Apontam teus olhos
Segredam teu dentro
Tuas constelações 

Me abrem teu peito 
Denunciam você
Num relance descubro
Num descuido percebo 

Relembro teu olho : tudo cabe
Muito espelha no que vê 
Quando você é silêncio,
Da superfície se lê.

Respiro,
Olho dentro:
Te vejo. 

Seus olhos 
tem jeito de infinito.


*

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022

Vaga-lumes

Seus olhos
Lampejos da noite
Pedem tudo num átimo 

Suplicam urgentes
todas as coisas fundas
Profundas águas vastas
Que não cabem nos mares 

Que matéria corpórea 
Que textura de pele 
poderia acolher 

Todos os barris de pólvora 
Tantos relances
Todos os tiros
Todas as letras 

Que estrutura elástica 
Aceitaria de bom grado 
Ser atingida por suas enchentes
Estar sujeita aos desmoronamentos
Ser floresta submersa
Reconfigurada
Igapó 

As folhas se alastram
Com a chegada das chuvas
Os olhos das matas ressurgem 

E lampejos começados discretos
Como luzes vagantes 
Terminam dentro
Acesos como o sol


*

segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Réstias

Às flores que caíram ainda em botão
Furtadas da sorte de se abrir
Repletas de vir a ser

Desejo que as cores guardadas dentro - tesouros sabidos só por elas
Sejam suficientes para colorir os dias restantes

Que as pétalas fechadas sejam escudos
Que o mistério de dentro resolva a imensidão das possibilidades externas

Que bastem as cores.

Que bastem os dias azuis e os dias cinzas
Que baste imaginar o crepúsculo e as estrelas

E que baste à nós, furtados de sua beleza
Encontrar nas pétalas fechadas o contorno do mistério que guardamos dentro


* * *


Texto escrito em 25 Maio de 2021
Não lembro muito bem o motivo, mas lembro. 
"E o meu coração, embora finja fazer mil viagens..."

sábado, 22 de janeiro de 2022

Mant(r)a

Escolhi no tempo
linhas pardas e fios de prata
resgatei novelos

Teci no vento 
a trama forte e exata
segui os apelos

Estive pronta
Abri as portas
Adormeci
Choveu

Acordei no tecido 
encharcado, úmido, pesado

Olhei em torno
perdi todas as minhas bordas

Me vi no jogo
a trama densa respingava

Senti a obra ensopada
o mofo que veio
os musgos
o abafamento

Sim
era tarde

E me dei outras tarefas
arrumar a casa
aguar as plantas

E a manta,
pendurar ao sol

Expor ao tempo
puxar de vez em quando 
um de seus fios
e lançar nas águas

O algodão é biodegradável
(a prata, não) 


***

sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Serranos

88 metros acima 
do nível do mar

Aqui o ar é mais rarefeito
a falta do oxigênio 
torna essa gente
menos sã

e mais calma

Uma leseira 
de quem se expande
devagar

Se poupa 
pra poder 
espreguiçar

Com mais calma ainda

Esse povo da serra 
se enraiza demais 
nos afetos

Exagerados

Se engalfinham na terra 
como quem precisa 
evitar um desastre

Perfuram, ávidos
as camadas de solo
desenham em si 
uma rede imensa e etérea 

São vastos

Como quem sabe 
que molda em si 
o caminho 
das águas subterrâneas

Para assim 
fazer nascerem as fontes
Para assim 
fazer brotarem florestas

As águas que brotam nessas raízes 
alimentam mares inteiros


***

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

Fluxo

Os tempos, 
quando se decidem
des iguais 
               e 
des
      com 
             passados

As luas, quando se fazem
minguantes, de dormir

Car regadoras 
de tudo 
que foi m a r  é

Quando 
baixa 
o fluxo
 
Quando 
se movem 
os fixos

Quando 
se fica 
de ré

   novas 
             configurações 
se fazem


Não tem força que f i  x   e


Tudo ali é  t
                    r
                      a
                       n 
                         s
                           i
                            t
                             ó 
                                r  i  o


movente, movedor


Acolhedor 
d e   e  x  p  a  n  s  ã  o 
e contração ,

c            i  
   í      l       c
      c              o  
                          .
       


* * *