sexta-feira, 5 de julho de 2019

Inflorescências

As revoluções, para serem válidas e vivas, não precisam ser grandes.
Não começam visíveis.
Podem prescindir da multidão e serem verdade.
Não são grito, fato ou palco toda vez : faixas são dispensáveis, assim como cartazes e manchetes vibrantes não precisam vir toda vez.

Algumas são lentas, sóbrias.
Podem vir da força calma da brisa.
Podem ser raízes finas e frouxas que encorpam desapercebidas.
Fortes, lentas.

Toque. Olhar. Abraço. Presença.
Gesto. Jeito. Encontro. Oferta.

Cuidado de mãos e palavras ditas com cuidado.
Silêncios.

Existências que se ramificam e que se abrem em direção às outras, que se partilham e se acolhem.
Que se partem, repartem.
Encontram um pouco de cura em deixar-se cuidar.

Descobrem que o somatório dos vazios produz milagre e não carência.
Que distribuir-se ao outro conforma um outro eu presente em todas as partes.
Que é bem mais bonito ver nossos fragmentos de beleza cintilarem no mosaico que formamos juntos, justapostos.

Nossos buracos deixam de ser falta e se tornam linguagem.
As peças ausentes deixam de ser tão lamento e se tornam bandeira, semente.
As perguntas (dúvidas, dores) encarnam parte beleza,  parte mistério:
O jardim flori.

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