Como Carlota, estou enraizada bem no meio desta terra.
Me imagino transmutando-me em outra: raízes-escora, aérea, caminhando pela vida.
Meu ascendente de elemento terra me pergunta se o que eu criei sob meus galhos ficaria bem.
Se sobreviveria.
Todo um ecossistema.
Amores grandes e pequenos, amigos.
Flores cultivadas e
flores espontâneas, todas belas.
Passarinhos, borboletas, besouros.
Minhas folhas que por anos tem protegido este chão.
Enquanto minhas raízes estão aqui sob a terra, quentinhas e
úmidas, me pergunto se dói tocar o ar.
Se este vento ressecaria minhas
entranhas a partir da pele.
Quanto tempo eu duraria.
Às vezes eu e Carlota somos uma só, expandindo infinitas
nossas raízes.
Nos movemos pelo fogo que nos habita.
Aparentemente imóveis, mas em expansão. Percorrendo a terra
desesperadas por um pouco de água e ar. Plenas de fogo e lenha, mas sem
oxigênio.
Como arderemos, Carlota?
Quando nossas labaredas serão
vistas do céu?
Para despistar nossa expansão, eu e Carlota podamos nossos
próprios galhos - temos agora esta copa discreta. Dizem que podando a copa, as raízes
esbarram de crescer, de se ir pra tão longe.
Carlota é uma Ficus - por sua natureza tem raízes que a
fariam rebrotar à metros de distância de onde está plantada.
Se me cortarem, será que rebroto fora daqui? À muitos metros
distante?
Minha natureza será de rebrotar?
Aos pés de Carlota esqueço que tenho pernas.
Gente tem pernas. E caminha.
Tem raízes de ir e vir.
*