sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Turnera ulmifolia

Elas não nascem nos belos jardins.
Não crescem organizadas ou enfileiradas.
Não obedecem à métrica humana que tenta sem sucesso regular a natureza.
São volumosas, e em grandes tufos, brotam do nada.
Rompem o concreto ou o solo compactado bem no meio de Novembro,
em meio ao calor e à secura.

Avessas à todas as condições climáticas.

Avessas às reclamações muitas que fazemos da política, do ônibus lotado,
do sol de rachar, da falta de amor.
Ninguém escolheria essa época para plantar flores: nossos corações cansados sequer ousariam pensar em cor alguma, que dirá amarelo!

Amarelo? E despontando em grandes tufos?
Completamente inadequado!

Entretanto, parece que ninguém disse para elas
que flores precisavam ser plantadas para florir.
E mesmo se disséssemos, não entenderiam.
Falam uma linguagem outra que só compreende o seguir em frente, o recomeço.
E mesmo depois de um Outubro esquisito e intragável, elas estão lá.
Em todas as beiradas de caminho.
Desorganizadas, e por isso mesmo maravilhosas.

Esperança teimosa que brota das sementes esquecidas na sarjeta.

Uma provocação ao olhar, um convite à alma para reexpansão dos horizontes.
"Ei! Olhe pela janela! Olhe o céu, e depois olhe para nós!"
Ao revê-las, decido que já é tempo de se pintar de amarelo de novo.
Com elas, reaprendo e redescubro o que sempre foi:
ainda é tempo de ser esperança.


Vinte e nove de outubro

No dia seguinte, a manhã estava muda.
Assim como as ruas, os carros, as bocas.
O ar, antes leve e colorido, parecia denso, cinza.
O ônibus se arrastava lenta e pesadamente, concordando que não havia motivos para pressa...
Correr para quê?
Mover-se para onde?
O peso de 56 milhões de dedos recaía sobre todas as cabeças, roubava o oxigênio das veias e o brilho dos olhares.
Rostos apáticos, pasmados, desolados.
Corações exaustos da luta.
Forças esvaídas numa guerra perdida muito antes da batalha começar.
Muitos vestíamos preto inconscientemente.
Disposição nenhuma havia para tocar no assunto.
As pessoas eram todas um mar de corpos desmaiados e olhares vageando no espaço vazio.
Era tão estranho que parecia não ser real.
Era um NÃO em letras garrafais.
Era tão duro e grave que fingíamos que tinha sido só um sonho ruim.
Tudo era susto.
Tudo era luto.
Éramos todos silêncio.