terça-feira, 7 de julho de 2020

Faz de conta


garimpo poemas
que me entreguem teu corpo em palavras
que transformem em imagem memórias vagas
que encarnem em mim ideias guardadas

construo fonemas
que decifrem os signos que não vi em teu rosto
que inventem o que o que não vejo, te deixem exposto
que em meus sentidos produzam teu gosto

eu caço palavras
que me falem de curvas que os olhos não percorreram
que em minhas mãos escrevam o que não viveram
que me adivinhem daquilo que não morreram

eu teço as falas
que me arranhem com letras que um dia inventei
que me dissolvam nos olhos em que não morei
que me ponham no abraço que devaneei



*

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Para dizer ao pé do ouvido


sua voz
g r a v e
tece um fio

suave
sugere arrepio
me iça para fora
de meu brio

a textura
d e n s a
me embriaga

invade a nuca
não me larga
me ressoa 
no quadril


*