quarta-feira, 2 de maio de 2018

Pitomba

Abro a geladeira.
Na minha frente, enxergo o potinho que guarda as magníficas esferinhas marrom-douradas.
Mergulho os dedos e encho a mão.
Uma ideia: levar pro quarto e completar a experiência com música e a visão do céu.
Executo o plano: me deito entre os lençóis fofinhos.
Seguro a bolinha número um entre o polegar e o indicador.
Observo por um segundo e ponho entre os dentes.
Pressiono.
O barulhinho que a casca cor de canela faz ao romper-se é um ploc carregado de magia e da leveza do brincar...
Som de infância.
Os acordes da música nos fones de ouvido completam a experiência, criando quase um mundo paralelo para o momento, uma cena de filme.
O fato de a frutinha estar gelada torna tudo uma religião.
A alma gargalha.
Um burburinho nas entranhas agradece aquele souvenir das tardes na casa da avó.
Pego as duas metades da casca, uma em cada mão, sinto o cheirinho ácido que se espalha no ar...
Dou aquela lambidinha básica na parte da casca que não guarda a polpa, e em seguida sugo a surpresinha gelada.
A língua estala de alegria com a batidinha de leve que decorre da sucção.
A bolinha suculenta passeia entre os dentes e é raspada, espremida e chupada até só restar o caroço: limpo, liso e seco.
Pausa pra olhar o caroço.
Pausa pra cuspir.
E pego a bolinha número dois.
Ploc!