Se a matéria prima que constitui o amor fosse plástica,
ou se os tempos fossem outros, teríamos nos amado.
Se aquele que eu era vislumbrasse o ser que eu seria,
se as dimensões tempo-espaço pudessem ser atravessadas,
eu facilmente viajaria e me diria para cultivar você.
Eu teria me dito pra ler o seu jeito e escolher melhor as palavras,
me forçaria a emergir da minha confusão e olhar para você.
Será que eu veria?
Te enxergaria?
Cada flor que brotou da sua boca, e que não colhi?
Perceberia em seu olhar a dor-esperança-mistério-desejo?
Teria me dado a você?
Hoje, no escorrer das horas e por entre os assaltos das lembranças,
decido que era justo ter te deixado entrar.
Nada me parece mais correto, nada mais bonito...
Que a melodia escancarasse as portas do meu ser.
Que depois dos acordes tivesse havido o beijo.
Que eu te trouxesse flores.
Que eu te abraçasse de um jeito melhor.
Que eu te olhasse um pouco mais demoradamente.
Que eu deixasse você ler o que eu sou.
Você me entregou seus tons e gestos e palavras...
Ternura e canção.
Quem dera eu soubesse me dar,
e acolher teu coração
*
quinta-feira, 29 de agosto de 2019
quarta-feira, 28 de agosto de 2019
Miopia
Eu te amo.
Amo os fios desgrenhados e ruivos que teimam em aflorar em sua barba densa.
Amo este perfume indizível que se esconde entre seus ombros e nuca.
Amo nossa dança precisa e imprevisível, cada passo.
Amo retirar os óculos do seu rosto e colocar sobre a escrivaninha.
Amo os momentos em que eles de nada servem.
Amo os seus olhos nus sob o fim da tarde, atravessados de luz, líquidos.
Amo nossos encontros míopes, a cena borrada ao fundo,
o mundo inteiro que termina em nós.
*
Amo os fios desgrenhados e ruivos que teimam em aflorar em sua barba densa.
Amo este perfume indizível que se esconde entre seus ombros e nuca.
Amo nossa dança precisa e imprevisível, cada passo.
Amo retirar os óculos do seu rosto e colocar sobre a escrivaninha.
Amo os momentos em que eles de nada servem.
Amo os seus olhos nus sob o fim da tarde, atravessados de luz, líquidos.
Amo nossos encontros míopes, a cena borrada ao fundo,
o mundo inteiro que termina em nós.
*
domingo, 4 de agosto de 2019
Quereres
Não quero viver como alguém que rearranja os móveis , esperando assim refazer a dinâmica da vida.
Eu é que me movo.
Me movo dos fluxos habituais, movo meus olhos cansados para outras vistas, outros horizontes.
Deixo a brisa me despetalar e me desnudar.
Movo meu corpo engessado do lugar, rompendo a casca de poeira que se acumulou em minha alma imóvel.
Quero vida.
Quero a dinâmica do mover-se novamente.
Flutuar entre as certezas para então acolher o incerto.
Liberdade para formular hipóteses, tranquilidade para vê-las refutadas pela vida...
Serenidade nos olhos e nas mãos.
*
Eu é que me movo.
Me movo dos fluxos habituais, movo meus olhos cansados para outras vistas, outros horizontes.
Deixo a brisa me despetalar e me desnudar.
Movo meu corpo engessado do lugar, rompendo a casca de poeira que se acumulou em minha alma imóvel.
Quero vida.
Quero a dinâmica do mover-se novamente.
Flutuar entre as certezas para então acolher o incerto.
Liberdade para formular hipóteses, tranquilidade para vê-las refutadas pela vida...
Serenidade nos olhos e nas mãos.
*
sábado, 3 de agosto de 2019
Reconciliação
Um corpo que dança
sorri, criança.
Traduz em gesto
antiga lembrança:
sorvete, chiclete, balão, picolé
Devolve aos olhos a cadência
do peito extingue a carência
e se vai a dor :
de amor, de espinhaço ou de dedão do pé
A alma flutua num rodopio
os sons lhe provocam algum arrepio
e embalam um jeito bonito de ser
No suor exorciza as horas vazias
esvazia a mente das coisas sombrias
e surge alguém novo, capaz de se ver
sorri, criança.
Traduz em gesto
antiga lembrança:
sorvete, chiclete, balão, picolé
Devolve aos olhos a cadência
do peito extingue a carência
e se vai a dor :
de amor, de espinhaço ou de dedão do pé
A alma flutua num rodopio
os sons lhe provocam algum arrepio
e embalam um jeito bonito de ser
No suor exorciza as horas vazias
esvazia a mente das coisas sombrias
e surge alguém novo, capaz de se ver
sexta-feira, 2 de agosto de 2019
Agosto
Vento
que move o farfalhar
faz a folha dançar
traz o rufar dos tambores até a concha - suspiro de mar
Vento em folha
o ar preenchido das notas graves
da surdez dos tambores a sons mais suaves
encontro de encanto esse teu sibilar
Vento
o que cantas não sei se é um triste lamento
ou se os tons anunciam um novo momento
à gosto dos sonhos, algum despertar ?
Vento e folha :
tormento ou dança ?
harmonia ou castigo ?
batalha ou beleza ?
* * *
que move o farfalhar
faz a folha dançar
traz o rufar dos tambores até a concha - suspiro de mar
Vento em folha
o ar preenchido das notas graves
da surdez dos tambores a sons mais suaves
encontro de encanto esse teu sibilar
Vento
o que cantas não sei se é um triste lamento
ou se os tons anunciam um novo momento
à gosto dos sonhos, algum despertar ?
Vento e folha :
tormento ou dança ?
harmonia ou castigo ?
batalha ou beleza ?
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