Olho ao meu redor, gargalho, escrevo: o caos é tão... criativo!
Mais uma bolinha de papel corta o ar em minha direção e eu me desvio naturalmente: já estou tão craque nisso que sequer preciso de esforço mental pra coordenar o movimento! Do meu lado, uma garota joga ferozmente os cabelos à frente para em seguida amarrar os fios no alto da cabeça: seus cabelos eram agora um negro chafariz jorrando pra cima, ridiculamente cômico, impossível não chorar de rir! Outro cidadão aqui do lado está cantando o mais novo sucesso do Michel Teló num mix das versões em espanhol, inglês e sei lá mais o quê, gritando “ai, se yo te pego” numa placidez facial de quem canta Garota de Ipanema! E eu? Bom, eu solto mais uma gargalhada, e só. E escrevo, é claro. E o cidadão não entendeu o motivo da minha risada.
Fazem 30 minutos que a professora de português chegou. E é claro que ela ainda não iniciou a aula. Está num infindável dilema sobre quem entregou ou não os trabalhos parciais, parece que alguns deles sumiram. Aí alguém grita que levaram os trabalhos pro banheiro e disponibilizaram para “uso higiênico”. Aí gargalho outra vez. E escrevo, é claro. Fossem outros tempos eu até ralharia com a idiotice da frase. Mas, hoje não.
Hoje o ar é tão leve que até o caos ao meu redor é a mais bela obra de arte. O burburinho, os gritos de adolescentes à flor da pele, as batucadas que de vez em quando cismam fazer... tudo isso soa tão harmônico aos meus ouvidos que este meio sorriso insiste em não me sair do rosto. E pra completar a sinfonia, o pessoal do fundão começou a imitar o coaxar de sapos. Sinto-me em um brejo. Aí, gargalho outra vez. E pareço uma louca rindo sozinha.
É que, fossem outros tempos, estaria enfezada. Mas, hoje não. Hoje estou em paz.
Na verdade, hoje SOU em paz.
E a fotografia do caos me é à óleo de Picasso.