Estou morando em olhos nenhuns
A minha casa, a beira das cajazeiras
Me abre para dentro como as janelas
Se abrem para o sol
As minhas portas, escancaradas pelo vento
tudo recebem de cor e de cór
e deixam fluir
Ainda há cascalhos
E conchas
E muito lixo em minhas águas
E tudo se mistura e transborda
nas abundantes gotas fevereiras
Até pareço um tanto mais fluida
E palavras me atravessam
E canções me atravessam
E batuques e danças
me transpassam
Me transponho
para tons agudos
Garganta e corpo
vibram em outras notas
Me componho
em pautas livres
Em meus pés que dançam
em outras paisagens
Me aproximo de energias mais densas
Olhos repletos de magnetismo
Corpos que acolhem
Mãos poderosas
Fervuras em potências de mover
Liberdades construídas de muitos jeitos
Gente que samba ao som das marés
Que pula em brincadeira e ritmo
Que tem prazer em se deixar levar
Olho
Guardo
Coleciono
Fotografo no olho
Agradeço
Sinto
Ainda não vi nada,
nada sei.
" Desde que sim
eu vim
Morar
(Nos meus) olhos".
inspirado em Âmbar, da Adriana Calcanhotto
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