sexta-feira, 22 de maio de 2020

Azul marinho

Nos véus anuviados das memórias cada um é uma cor.
Quando as cores me assaltam por entre os dias, e por entre o pequeno espaço das horas vazias surge da janela uma imagem bonita, é sempre a visita de alguém.

Dias claros pingados de sol amarelo, uma amiga.
Os riscos rosados do poente, uma prima.
O vermelho da melancia, minha avó.

O caramelo amadeirado do violão, um amigo.
O verde bandeira num cacto, outra amiga.
Uma marajó marrom, meu pai.

Uma camiseta branca é um senhor querido que admiro muito.
Uma sapatilha bege é minha professora de balé da infância.
As folhas rajadas da jibóia verde e branca são minha irmã todinha.

Você também tem cor.
A sua cor é o tom de azul profundo do céu logo depois que o sol se põe, quando surgem as primeiras estrelas. Chamam de azul marinho mas de mar não tem nada.
Tem tudo de chuva porque chuva é céu quando transborda beleza.
Tem tudo de água porque é aquarela transfigurada em gente esse azul.
Tem algo de rio porque movimenta este mar.
Tem transparência e tem camadas sólidas.
Faz redemoinhos.
Faz ondinha.
Evapora.
Chove.
Ri.

De repente, uma estrela.


*