domingo, 22 de agosto de 2021

Lua azul

Os fazeres com que ocupamos as mãos 

nos transformam

Traços, rabiscos, agulhas e linhas

Colheres, réguas, compassos

Níveis de bolha e pá

Me constituem

Trocam fagulhas com meu dna

Flertam com os genes sem no entanto

neles se expressarem


Ou talvez se expressem


E nossos microscópios ainda não sejam

potentes o bastante para traduzir estas

belezas herdadas em mistério

Em silêncio

Em ato repetido

Em ritual cotidiano


Características adquiridas 

entre os bolos de milho e as conversas da tarde

Entre o mingau de carimã e o boa noite

Bordadas em minha pele feito as colchas

de restiliê


Pelas frestas das quais me tornei

permeável à você, senhora

Minha amiga

Meu par

Minha avó.


* * *

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