Os fazeres com que ocupamos as mãos
nos transformam
Traços, rabiscos, agulhas e linhas
Colheres, réguas, compassos
Níveis de bolha e pá
Me constituem
Trocam fagulhas com meu dna
Flertam com os genes sem no entanto
neles se expressarem
Ou talvez se expressem
E nossos microscópios ainda não sejam
potentes o bastante para traduzir estas
belezas herdadas em mistério
Em silêncio
Em ato repetido
Em ritual cotidiano
Características adquiridas
entre os bolos de milho e as conversas da tarde
Entre o mingau de carimã e o boa noite
Bordadas em minha pele feito as colchas
de restiliê
Pelas frestas das quais me tornei
permeável à você, senhora
Minha amiga
Meu par
Minha avó.
* * *
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