por fora
mas sempre por dentro
De vez em quando me vem um cansaço imenso de ser um ser que fala.
As palavras parecem todas vazias de significado, a comunicação verbal um aparato inútil. Vejo os seres humanos ao meu redor, e eu mesma, articulando a boca sem parar e emitindo sons que nada dizem.
Estamos perdidos uns dos outros.
Tão ansiosos, tão cheios de porvir e esvaziados de presença. Parece que a gente se dilui na aceleração do tempo capitalista, viramos um borrão na tela, uma ideia fugaz, e mesmo ali diante do outro não passamos de uma rolada de feed.
Radicalmente, esquecemos da gente mesmo. Parece que a gente flutua em tanta possibilidade que não é capaz de materializar nenhuma.
Será que é isso, o futuro? Projeções mentais invisíveis sobre uma realidade cinza?
Feeds coloridos e retinas incapazes de ver as cores reais?
Gramas vizinhas sempre tão melhores que deixam o meu próprio jardim um lugar seco, desmerecido de cuidado e umidade?
Tantas palavras me levam sempre a desejar o silêncio.
Ah.
Um longo e doce período de nada dizer.