sábado, 2 de março de 2024

Silêncio

 De vez em quando me vem um cansaço imenso de ser um ser que fala. 

As palavras parecem todas vazias de significado, a comunicação verbal um aparato inútil. Vejo os seres humanos ao meu redor, e eu mesma, articulando a boca sem parar e emitindo sons que nada dizem.

 Estamos perdidos uns dos outros. 

Tão ansiosos, tão cheios de porvir e esvaziados de presença. Parece que a gente se dilui na aceleração do tempo capitalista, viramos um borrão na tela, uma ideia fugaz, e mesmo ali diante do outro não passamos de uma rolada de feed. 

Radicalmente, esquecemos da gente mesmo. Parece que a gente flutua em tanta possibilidade que não é capaz de materializar nenhuma. 

Será que é isso, o futuro? Projeções mentais invisíveis sobre uma realidade cinza? 

Feeds coloridos e retinas incapazes de ver as cores reais? 

Gramas vizinhas sempre tão melhores que deixam o meu próprio jardim um lugar seco, desmerecido de cuidado e umidade? 

Tantas palavras me levam sempre a desejar o silêncio. 

Ah. 

Um longo e doce período de nada dizer. 

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