domingo, 12 de maio de 2024

Festa

A varanda da casa não via uma cena daquelas à muito tempo. 
Talvez nunca tivesse visto. 
A mangueira, habituada à festa tímida dos cactos e suculentas que agradeciam solenes pela umidade esporádica, não imaginava que o dia era da festa de outra espécie, a humana. 
Os humanos mesmo não precisavam de água por fora, não era lá uma questão de vida ou morte, de desidratação. 

Era uma questão de pele. 
Era a festa da pele. 

Fazia calor e era até fácil ter aquela ideia quando os sentidos não estão disciplinados à vida comportada. 
Quando se deixa pra lá o que convêm. 

Pois sim. 

A proposta foi a de tomarem banho, juntos, de sol e de luz, na varanda, e de mangueira. E como eram jovens e como era domingo, e como domingo fosse o dia do sim, foram.

Arco íris se desprendiam das gotas no ar e cachoeiras escorriam da pele. 
Os poros acordavam e a vida parecia muito viva. 
O calor ainda fazia correr um arrupeio nas peles, que agradeciam a carícia das águas. 
Pois sim. 
Banho de mangueira no jardim. 
Festa de humanidades, ritual dos agoras. 
E convite e primórdios das outras festas de depois, começada também nos poros, mas feita da linguagem de outras águas. 

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