A varanda da casa não via uma cena daquelas à muito tempo.
Talvez nunca tivesse visto.
A mangueira, habituada à festa tímida dos cactos e suculentas que agradeciam solenes pela umidade esporádica, não imaginava que o dia era da festa de outra espécie, a humana.
Os humanos mesmo não precisavam de água por fora, não era lá uma questão de vida ou morte, de desidratação.
Era uma questão de pele.
Era a festa da pele.
Fazia calor e era até fácil ter aquela ideia quando os sentidos não estão disciplinados à vida comportada.
Quando se deixa pra lá o que convêm.
Pois sim.
A proposta foi a de tomarem banho, juntos, de sol e de luz, na varanda, e de mangueira. E como eram jovens e como era domingo, e como domingo fosse o dia do sim, foram.
Arco íris se desprendiam das gotas no ar e cachoeiras escorriam da pele.
Os poros acordavam e a vida parecia muito viva.
O calor ainda fazia correr um arrupeio nas peles, que agradeciam a carícia das águas.
Pois sim.
Banho de mangueira no jardim.
Festa de humanidades, ritual dos agoras.
E convite e primórdios das outras festas de depois, começada também nos poros, mas feita da linguagem de outras águas.
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