terça-feira, 1 de dezembro de 2020

Onça-pintada

Sinto primeiro os indícios no ar. Sigo pelo cheiro.
Como cega.
Silente, experimento a imersão em mim pelo olfato. 
O mapa é traçado.
Sigo.

Chega muito depois nos outros sentidos.
A vibração do som e os primeiros lampejos na retina já são a explosão dos músculos incontidos, urgentes, obstinados na tarefa.
A tarefa é a morte.
A morte é minha vida.
O cheiro do sangue é sinal de que minhas veias continuarão a pulsar.

Circundo o território, numa espera paciente de seu deslize.
Me deito. Me levanto. Rio e converso. 
Faço estas e outras coisas, ocupo as mãos e a mente - seu cheiro não abandona minha pele. 
Estou consciente da sua presença no ar. 
Memória elétrica, você é coisa que reverbera.
Minha existência parece ter sido forjada para tragar a sua.
Desculpa.

Assustei você?


*

3 comentários:

  1. Só agora conheci sua poesia. E amei! Mto boa. Parabéns!

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    1. Obrigada Márcio! Uma alegria saber que você veio por aqui! Admiro muito tudo que você faz! Abraço!

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  2. Minha poetisa favorita das últimas horas

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